domingo, 6 de junho de 2010

Império da mistificação e do embuste I

Acaba sendo verdadeira tortura para o cronista a existência de feriado no meio da semana. O editor pede antecipação de textos e o escriba se vê obrigado a ciscar jornais e revistas na procura de veio farturoso que o tire do aperto. De repente, noves fora os assuntos políticos nacionais, somos tragados pela condenação mundial ao ataque-defesa que Israel praticou contra seus interesses mais imediatos, impedindo a entrada de bandoleiros ativistas ligados aos terroristas do Hamas em suas águas territoriais. O mundo inteiro foi sacudido pelos protestos contra a “barbárie” praticado pelos judeus. Entre os protestantes com assento no Conselho de Segurança da ONU estavam os mais sórdidos e cruéis ditadores existentes hoje no mundo, recebidos com aplausos ao proferirem o voto. Pessoalmente, considero o povo judeu um dos mais bem aquinhoados da face da terra. Rápido levantamento deu-me conta de mais de 30% por cento dos premiados com o Prêmio Nobel durante toda a história deste galardão, são judeus, nascidos em Israel ou vivendo em outros países, o que dá ao povo habitante da Terra Santa supremacia mundial em áreas do conhecimento

Império da mistificação e do embuste II

. Pela mesma forma, a nação norte-americana, contra a qual levantam-se os esquerdistas brasileiros babando de inveja da força e do poderio daquele grande país, oferece ao mundo toda semana não somente seus ganhadores de prêmios internacionais, mas também uma infinidade de conquistas em matéria de pesquisa no combate às doenças que afligem a humanidade, a exemplo da vacina capaz de detectar a presença de bactéria causadora do câncer do pulmão em prazo suficiente para seu combate eficaz. Enquanto fazemos coro com os protestos contra Israel, divulgamos os números do PAC, programa político do partido do governo, para demonstrar sua absoluta incompetência no exercício de sua missão principal que é governar com zelo pelo dinheiro público, com publicidade e transparência. Isto sem falar na obrigação de plena legalidade.

Império da mistificação e do embuste III

Ora direis, as leis somente servem para atrapalhar, parecem agir os homens do PT e os sindicalistas que estão no governo. Cumprem religiosamente seu projeto de desrespeita-las, papel no qual se investe como grande líder o próprio presidente da República, que tendo perdido toda a cerimônia não apenas pratica ilegalidades, faz questão de anuncia-las até com antecipação. Há algo grave e ainda oculto para a opinião publica. Tem sido repetitiva a distribuição dos chamados cadernos para o ensino fundamental com propaganda política e sexual, atingindo as camadas mais tenras da juventude brasileira. Agora o governo, com o dinheiro dos impostos, imprime revista de caráter publicitário, distribuindo-a para todo o Brasil com as mais deslavadas mentiras a respeito do que acontece no país.

Império da mistificação e do embuste IV

Vivemos um tempo de deboche e gabolice. A sensibilidade moral da opinião publica está anestesiada. Sindicatos descumprem a lei sob a batuta presidencial. Tribunais se acoelham ante a arrogância do poder. Jornais e formadores de opinião subjugados pela bulha infernal dos áulicos. É o caos. Podem parecer exageradas ou pessimistas essas observações. Analisem comigo o fato novo ocorrido nesse final de semana: o Tribunal Superior Eleitoral multou pela quinta vez consecutiva o presidente da República por fazer campanha política irregular em favor de sua candidata. Da punição, o presidente voador faz pilheria e dela debocha . Que exemplo está dando à mocidade do país, descumprindo a lei e caricaturando os tribunais, acoelhados diante da volumosa publicidade em torno do presidente, transformando em verdadeira divindade nos meios de comunicação. Tudo isto sem a prova cabal do povo, pois ninguém sabe de onde provêem os números destas pesquisas, geradas nos fornos dos jornais altamente privilegiados pelas verbas governamentais. Ainda bem. O fim está próximo com a chegada das eleições e a necessária mudança dos comandos governamentais.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

O país real e o país oficial II

Em crônica datada do ano de 1860, Machado de Assis escreveu: “o país real, esse é bom, revela os melhores instintos, mas o país oficial, este é caricato e burlesco”. Será que as coisas mudaram ou o estigma lançado pelo grande escritor brasileiro terá ainda validade? É possível assistirem carradas de razão a quem afirmar que tudo continua igual e que essa diferença entre o Brasil real, da população ordeira e trabalhadora, dos pais e mães de família lutando pela sobrevivência para educação dos filhos, dos militares cumprindo seus deveres funcionais nos quartéis, existirem enormes e inultrapassáveis obstáculos criados pelo desgoverno e a falta de compostura a nos jogar no caricato e no burlesco. Os episódios da intervenção atabalhoada da diplomacia brasileira no Oriente Médio e no Irã, despertaram o mundo para identificar a verdadeira face do poder brasileiro, expresso na incontestável afirmação do jornalista Moisés Naim, ex-diretor da importante revista Foreing Policy, de que “o Brasil é um gigante político, mas um anão moral”.

O país real e o país oficial II

Tudo pela circunstância de haver-se posicionado ao lado de ditadores sem escrúpulos, em especial o representante da teocracia tirânica e assassina do Irã. Sobre esse pacto firmado com o ditador iraniano, jornais de todo o mundo exprobaram o comportamento do governo brasileiro, infelizmente já acostumado a beijar a mão de tiranos espalhados pela África e Ásia. Thomas L. Friedman, acatado analista político do jornal New York Times, escreveu em sua coluna que nada é mais feio que ver democratas traindo outros democratas em benefício de um bandido iraniano que nega o Holocausto e roubou votos, simplesmente para desafiar os Estados Unidos e mostrar que são capazes de jogar na mesa dos poderosos. Em verdade, a Lula interessava muito menos a posição inarredável do Irã em caminhar com seu programa nuclear em direção à bomba atômica.

O país real e o país oficial II

Tudo pela circunstância de haver-se posicionado ao lado de ditadores sem escrúpulos, em especial o representante da teocracia tirânica e assassina do Irã. Sobre esse pacto firmado com o ditador iraniano, jornais de todo o mundo exprobaram o comportamento do governo brasileiro, infelizmente já acostumado a beijar a mão de tiranos espalhados pela África e Ásia. Thomas L. Friedman, acatado analista político do jornal New York Times, escreveu em sua coluna que nada é mais feio que ver democratas traindo outros democratas em benefício de um bandido iraniano que nega o Holocausto e roubou votos, simplesmente para desafiar os Estados Unidos e mostrar que são capazes de jogar na mesa dos poderosos. Em verdade, a Lula interessava muito menos a posição inarredável do Irã em caminhar com seu programa nuclear em direção à bomba atômica.

O país real e o país oficial III

O que para ele era importante era, como inegável comunicador e animador de auditórios, apresentar-se como candidato brasileiro a um lugar no Conselho de Segurança da ONU ou buscar assentar-se naquele importante plenário como Secretário Geral da organização. Deu com os burros n’água, encontrando por parte de comunidade internacional o repúdio a uma manobra que permitiu ao Irã ganhar tempo no jogo que pretende conduzir a nação persa a obter controle de explosivo nuclear. O governo anda batendo cabeça para ver se encontra explicações para o monumental fracasso diplomático, que, de tão retumbante, até a propaganda oficial está dele se afastando lentamente, não tão rápido que pareça derrota, nem tão vagaroso que signifique prêmio à incompetência. Para completar este quadro triste e indecoroso da diplomacia, esmeram-se porta-vozes em defender o cocaleiro boliviano do ataque feito pelo ex-governador José Serra de que a Bolívia exporta cerca de 90 por cento da cocaína consumida pela juventude brasileira, o que configura, na prática, crime hediondo

O país real e o país oficial IV

. O Brasil oficial continua caricato e burlesco. O que causa incômodo aos observadores da história diplomática do Brasil é o fato de que, jamais, em tempo algum, ela serviu a interesses dogmáticos ou ideológicos. Sua meta principal era o interesse do país, consubstanciado nos acordos culturais, comerciais ou estratégicos, sempre postulando ganhos que situassem o Brasil em posição de respeitabilidade perante a comunidade internacional. Nesses últimos anos, lamentavelmente, tudo obedece a comandos de natureza política, misturando posições partidárias com ações internacionais em busca do reconhecimento dos estamentos esquerdistas mundiais, quase nunca representativos dos verdadeiros e superiores interesses nacionais. Pior de tudo, é o desrespeito à memória do Barão do Rio Branco e de outros varões que honraram o Ministério das Relações Exteriores.

sábado, 29 de maio de 2010

Bolsa Copa de Lula virou as catâmbrias II

O candidato José Serra é também culpado. Foi dele a afirmação de que “Lula está acima do bem e do mal”, aumentando ainda mais a teomania que domina a personalidade do presidente passeador, agora transformado em camelô do tirano iraniano em desconcertante, no limite do ridículo, tentativa de inserir-se como estadista global. Seria negar evidências inadmitir os sucessos do presidente nas políticas internas herdadas do antecessor. Acontece que, na medida em que se aproxima o fim do mandato, ele começa a falar coisas e a produzir fatos atordoantes, deslustrando assim uma biografia construída com notável esforço. O caso mais notório dessa perda de cerimônia e aproximação do estapafúrdio é o projeto denominado Bolsa-Copa, pelo qual o governo doaria 100 mil reis aos jogadores que participaram das copas de 1958, 1962 e 1970, atribuindo-lhes ainda pensão vitalícia

Bolsa Copa de Lula virou as catâmbrias II

A reação fez-se de imediato pela voz digna do jogador Tostão, considerando errada a decisão governamental com estas palavras candentes, depois de afirmar sua peremptória recusa ao benefício, se aprovado: “É um erro distribuir verba pública assim. E os atletas de outros esportes? E os que não foram campeões, mas que lutaram? Eu não quero essa pensão”, arrematou o ex-campeão do mundo. Pela mesma forma, o presidente do Coríntians Andrés Sanchez, lulista de carteirinha, esbravejou depois de sua tentativa frustrada de falar com Lula: “Estou desesperado para falar com ele: ‘Cê ta louco meu?’ Arremata dizendo que a Federação das Associações de Atletas Profissionais, que tem como presidente o digno e sempre lembrado Wilson Piazza, possui recursos para premiar jogadores, em parte contestado pelo ex-craque assinalando que a FAAP não os tem pelo fato de muitos clubes serem dela devedores. O problema está em que, nos dias de hoje, os jogadores de futebol não precisam da ajuda de governos para sobreviver. Recebem salários altíssimos, principalmente os contratados pelos clubes estrangeiros, além de terem estipêndios muito acima do normal dos brasileiros os que jogam nos clubes locais.

Bolsa Copa de Lula virou as catâmbrias III

O presidente está fazendo barretada com o chapéu alheio, especialmente em ano eleitoral, quando jurou por todos os anjos e demônios que irá eleger sua candidata, custe o que custar. Para tanto, está virando as catâmbrias, expressão vinda da Inglaterra no passado, adotada por Machado de Assis numa de suas crônicas, para significar alguém que está pondo as coisas de cabeça para baixo, trocando alhos por bugalhos, de pernas para o ar, enfim, esforçando-se para retirar de sua administração parte do brilho justamente conquistado. O limite entre a glória e o ridículo é tênue demais para ser submetido a choques dessa natureza. Pelo dedo se conhece o gigante, assim como pela palavra se distingue o estadista do bufão. Arrancar do empobrecido povo brasileiro, ainda com 50% de sua população sem rede de esgoto e 14 milhões de analfabetos, dinheiro para premiar atletas altamente bem remunerados é querer as coisas pelo avesso. Virar as catâmbrias.

Bolsa Copa de Lula virou as catâmbrias IV

Não há qualquer tentativa de humor nesta afirmação. Quem acompanha com olhos de lince, ou mesmo com visão estrábica, o que vem acontecendo no Brasil já percebeu que tudo se passa ao arrepio das normas legais e do bom senso. Como admitir sem reação a atitude desafiadora do presidente da República ao infringir a lei eleitoral, fazendo propaganda aberta em favor de sua candidata. Tudo se passa sem a menor reação, como se o país estivesse anestesiado pela maciça propaganda governamental, para a qual não há regras ou medidas, inclusive o uso de empresas estatais fazendo proselitismo político quando sua publicidade deveria ser meramente institucional. Enfim, se o povo aceita mansamente essas aberrações é porque realmente está feliz e realmente também virando as catâmbrias. Em verdade, não vale aquele velho aforisma de que povo tem o governo que merece. O povo brasileiro merece coisa bem melhor.

A bela lição da democracia inglesa I

Sem espetaculosidade, espalhafato, ausência de barbudos e mal vestidos, em bocejante ordem e disciplina, a Inglaterra oferece ao mundo maravilhoso exemplo de democracia e organização, realizando a transferência de poder conforme as determinações da Carta Magna de 1215 imposta ao Rei pelos súditos em estado de rebelião. Desde quando os trabalhistas, depois de mais de dez anos no poder, foram derrotados pelos conservadores e liberais nas eleições parlamentares, decisivas dentro do regime adotado na velha e orgulhosa Albion, as conversações foram iniciadas sob o signo da responsabilidade política de cada grupo, especialmente em busca de soluções que ajudassem a superação da crise que ainda perturba e inquieta o mundo europeu. Nenhuma barganha oculta ou simulada para enganar a opinião pública.

A bela lição da democracia inglesa III

vTudo feito, para nossos padrões latinos, com irritante transparência. Estranhamente, nosso presidente que tem por hábito falar sobre tudo e se meter nos assuntos do mundo inteiro não tugiu nem mugiu. Deixou claro que o exercício pleno da democracia lhe não desperta tantas emoções quanto os processos a que estão submetidos a atordoada Venezuela e o tiranizado Irã , onde ditadores impõem sua vontade ao arrepio dos mais comezinhos princípios republicano-democráticos. O contraste que se expõe aos olhos dos brasileiros entre o processo sucessório na Inglaterra e aquele aqui montado pela publicidade governamental, retirando do bolso do colete o nome de uma candidata sem tradição política e sem filiação partidária para impô-la goela abaixo de seu próprio partido, enche-nos de vergonha, senão de inveja, por não havermos atingido o nível de educação política daquele povo tradicional.

A bela lição da democracia inglesa III

O espetáculo democrático oferecido ao mundo pelos ingleses é de causar emoção. O poderoso primeiro-ministro deixa a sede do governo ao lado da esposa e filhos, sem fanfarras e guirlandas, na modéstia e simplicidade de quem prática ato corriqueiro. Sem tardanças e depois de receber o placet da Rainha Elizabeth II, o novo chefe de governo David Cameron, líder dos conservadores vitoriosos, com a mesma naturalidade e igualmente ungido pela tradição e a lei, assume o governo ao lado do líder dos liberais-democratas em solenidade carregada de emoção pela simplicidade. Nada supera em beleza e emoção atos e ritos da democracia quando praticados com a devoção de quem nela acredita verdadeiramente. Superam em muito a pompa e a ostentação das práticas carregadas de sombras e mistificações dos regimes baseados na truculência dos populistas, na enganosa publicidade dos demagogos, nas falsas promessas dos habituados a embair a boa fé da população

A bela lição da democracia inglesa IV

Os personagens das cenas de transferência do poder na Inglaterra são o espelho da luminosidade exigida pela democracia dos seus praticantes. Sinceridade estuando pelos semblantes marcados pela gravidade da hora, fica o mundo devendo à gloriosa nação a magnífica lição de democracia, que “continua sendo o pior regime, salvo os outros”, conforme definia o imortal Winston Churchill. A rigor, o que acontece politicamente na Inglaterra segue curso natural desde o tempo em que os dois gigantes de sua história parlamentar, Disraeli e Galdstone, deixaram-na impregnada de exemplos de patriotismo e compromissos com o regime democrático. Basta relembrar um ou outro e seguir-lhes os passos para que os ingleses, obedientes às falas tradicionais do trono, encontrem o ponto de convergência que faz grande e poderosa sua nação. Democracia é regime e modo de governar que deita suas raízes na simplicidade das coisas. Sua principal virtude está em respeitar a natureza das coisas, principalmente deixar ao povo abertas as oportunidades a que se manifeste sem constrangimentos de qualquer espécie. Para consolidação definitiva do regime democrático no Brasil, políticos e homens de Estado não esqueçam de fazer dos exemplos de virtude o símbolo maior.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

O sinal da cruz dos atletas e o sorriso dos candidatos I

Arrefecida minha paixão pelo futebol e consequentemente pelo Atlético, o hábito de ir a estádio perdeu força. Questão de comodidade, talvez, estimulado pela exibição nas telas das televisões detalhes e ângulos que o espectador não vê nos campos. Se o calor das torcidas deixa certo vazio nas emoções da partida televisionada, verdade é que as técnicas modernas e o aparelhamento sofisticado das emissoras imprimem cenas que exaltam ou degradam o espetáculo. Algo tem me chamado a atenção nos jogos: não há atleta que entre ou saia de campo sem fazer o sinal da cruz, duas ou três vezes como para confirmar sua religiosidade, isto sem falar nos premiados por jogadas de efeito ou autores de gols que levantam os olhos para o céu com as mãos ao alto como em agradecimento pelo prêmio recebido. O impressionante mesmo é o sinal da cruz, praticado à unanimidade por todos que entram ou saem do jogo. Vejo nisto um auspicioso sinal de fé, que, mesmo em momentos tensos e carregados de emoções, ilumina o espírito do atleta como reverência e agradecimento pelo privilégio de ter sido escalado em função de suas qualidades. Se todos exibem o sinal da cruz com natural espontaneidade, o mesmo não acontece com o sorriso forçado dos políticos e candidatos diante das câmaras fotográficas.

O sinal da cruz dos atletas e o sorriso dos candidatos II

. Antigamente se dizia muito riso pouco siso. Hoje não. Quando mais popular é o político ou o artista, e a mania está contaminando todos diante de fotógrafos e cinegrafistas, seu sorriso se abre para significar estar em paz consigo mesmo e usufruto de intenso momento de prazer. Há exemplos, promovidos pelas novas técnicas de implantes dentários, de fotografados cujo sorriso estampa dentição alva e perfeita, como se estivessem querendo fazer propaganda do odontólogo autor da proeza. Seja como for, estes sorrisos persuadidos pelos marqueteiros que tomaram conta das campanhas políticas, dos publicitários autores de peças propagandísticas para jornais e televisões, atinge as raias do exagero que, em alguns casos, ganham certa tonalidade ridícula, sobretudo quando os momentos em que estão sendo chamados a se pronunciar sugerem circunspeção e seriedade. Assim surgem inspirações para as crônicas. Este é o espírito que move estas mal traçadas linhas, ao cronicar nos sábados sobre assuntos variados. De qualquer forma, observados atentamente, refletem estado de espírito enobrecedor no caso dos sinais da cruz exibidos pelos atletas e certa vulgaridade pelos pavoneadores de sorrisos inteiramente desproporcionais aos acontecimentos de que participam. O caso mais recente e grotesco ficou por conta do sorriso forçado mostrado pela pré-candidata do PT ao colocar flores sobre a lápide do túmulo de Tancredo, local a exigir um mínimo de unção religiosa, substituída pela amostra da arcada dentária anteposta pelos marqueteiros de plantão

O sinal da cruz dos atletas e o sorriso dos candidatos III

. Seja como for, estes sorrisos persuadidos pelos marqueteiros que tomaram conta das campanhas políticas, dos publicitários autores de peças propagandísticas para jornais e televisões, atinge as raias do exagero que, em alguns casos, ganham certa tonalidade ridícula, sobretudo quando os momentos em que estão sendo chamados a se pronunciar sugerem circunspeção e seriedade. Assim surgem inspirações para as crônicas. Este é o espírito que move estas mal traçadas linhas, ao cronicar nos sábados sobre assuntos variados. De qualquer forma, observados atentamente, refletem estado de espírito enobrecedor no caso dos sinais da cruz exibidos pelos atletas e certa vulgaridade pelos pavoneadores de sorrisos inteiramente desproporcionais aos acontecimentos de que participam. O caso mais recente e grotesco ficou por conta do sorriso forçado mostrado pela pré-candidata do PT ao colocar flores sobre a lápide do túmulo de Tancredo, local a exigir um mínimo de unção religiosa, substituída pela amostra da arcada dentária anteposta pelos marqueteiros de plantão

O sinal da cruz dos atletas e o sorriso dos candidatos IV

Tudo concorre para que o povo identifique o alto grau de improvisação em que mergulhou a política no Brasil. Há algo interessante envolvendo as primeiras escaramuças eleitorais. A candidata do PT é espécie de “alter ego” de Lula. Vocaliza idéias de que não é autora, transformando-se em mero agente da publicidade governamental usada para obter sufrágios eleitorais. O candidato José Serra, do alto de sua experiência de ministro, deputado, senador, prefeito e governador, dá sinais de grande superioridade nas intervenções de que participa. O que enseja ao observador tirar conclusões não muito definitivas sobre o que poderá acontecer no pleito é o alto nível de artificialismo que envolve as primeiras ações dos partidos em luta. Surge a candidata do PV como novidade, com expectativas de crescer perante a opinião pública. Eliminando os sorrisos forçados dos candidatos, nada de mais novo existe.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

A morte do padre e acadêmico Pascoal Rangel I

Foi para a Igreja, para a Academia Mineira de Letras, momento de grande tristeza e comoção a notícia do falecimento do padre Pascoal Rangel, notável filósofo e homem de vasta cultura. Tendo superado problemas de saúde que muito o fragilizavam, recuperando-a com ânimo vigoroso, Padre Pascoal Rangel cuidava da direção da Editora Lutador, empreendimento empresarial que jamais descurou da cultura e dos interesses superiores da doutrina, fazendo de sua vasta e preciosa biblioteca o cadinho onde elaborava seus ensaios, suas teses filosóficas e, em especial, estudos de poesia a que se dedicou depois de fascinado pelos versos de Henriqueta Lisboa. Por estranho desígnio da providência ou do destino, foi exatamente dentro de sua biblioteca, que peripateticamente percorria todos os dias em busca do melhor livro para o trabalho que realizava ou uma tese sobre a qual meditava, que numa queda inopinada fraturou o fêmur, obrigando-o a fazer cirurgia reparadora que, certamente deixou seqüelas que acabaram por apressar seu encontro com o Deus que ele tanto amou e glorificou em vida.

A morte do padre e acadêmico Pascoal Rangel II

Como seu confrade na Academia Mineira de Letras tive oportunidade de me aproximar dele, cativado pela sua imensa bondade e seduzido pela vasta cultura. Sua vida é um amplo espectro que abrange desde o primeiro vicariato na cidade de Carangola até os dias finais de sua existência, totalmente dedicada e entregue ao pensamento filosófico na tentativa de solucionar dúvidas e inquietações que afligem a sua e nossa Igreja. Se sua nobre existência possibilita exame amplo pela plenitude de sua ação apostolar, muito se poderá dizer da vocação magisterial que o professor exercitou com raro brilho nos seminários e universidades da capital. Ele será lembrado como fundador e criador da Editora “O Lutador”, redator do jornal “O Lutador”, diretor da Revista de teologia “Atualização”, conferencista sempre lembrado para proferir palestras quando era requerida personalidade de reconhecida cultura e competência teológica. Enfim, na multifária atividade intelectual e sacerdotal do Padre Pascoal há inumeráveis aspectos que mereceriam destaque nesta hora de saudade e de lágrimas

A morte do padre e acadêmico Pascoal Rangel III

A mim, cabe comentar, ainda que brevemente, sobre o acadêmico Padre Pascoal Rangel, eleito para a cadeira de número 27 no dia 27 de dezembro de 1997, na vaga deixada pela morte do titular Dom Oscar de Oliveira. Outra coincidência provocada pelo destino: um intelectual substitui o grande antístite de Mariana, poeta e intelectual do mesmo aprumo do Padre Pascoal. No dia 12 de março de 1998, há precisamente 12 anos, tomava posse o acadêmico padre Pascoal Rangel, em sessão solene presidida pelo presidente da Academia, acadêmico Vivaldi Moreira. Em seu alentado discurso de posse, Padre Pascoal Rangel falou sobre importância dos intelectuais no mundo moderno, sobretudo de sua responsabilidade em não permitir a invasão de doutrinas anticristãs sob o enganador disfarce das promoções sociais. Perdemos um grande sacerdote e um notável mestre cuja ausência deixará muitas saudades. Que Deus o tenha em sua glória!

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Esqueceram Getúlio Vargas I

Minha geração estudantil incorporou à sua memória a lembrança do dia 19 de abril dos idos de 1941/42/43, quando desfilava garbosa e altiva pelas avenidas da capital para homenagear o chefe do Estado Novo, cujo endeusamento era prática habitual no regime instalado a partir de 1937. Chegando ao governo com o apoio das forças mineiras, escolhido chefe do governo provisório em 1930, foi eleito pelo Congresso para o período presidencial que tinha início em 1934 para, em 1937, golpear as instituições sob o fundamento do avanço comunista no Brasil. Estou me lembrando de Getúlio Vargas por uma série de razões, especialmente pela circunstância de que no amplo noticiário desta semana, concentrado nas homenagens pelo cinqüentenário de Brasília e pelo primeiro quartel da morte de Tancredo, esqueceram de comentar que em abril também existia o dia 19, data do nascimento da mais importante figura histórica brasileira do século XX.

Esqueceram Getúlio Dorneles Vargas II

Como o dramático suicídio de Vargas ocorreu em agosto de 1954, já esmaecido pelo tempo e pela incrível capacidade da desmemoria nacional, no vasto painel dos fatos históricos apresentados pelo mês de abril, tal e qual o mês de agosto notável pelos infaustos acontecimentos que ensombraram a vida brasileira, pode ter ocorrido lapso aos comunicadores ao olvidarem da data de nascimento de Vargas. Outro dirão que é preferível saudá-lo pela lei que criou a Petrobras. Outros se lembrarão de que foi de sua lavra a mais moderna legislação social daquele tempo, conquista que nem mesmo os mais ardentes inimigos de Vargas conseguem negar-lhe. Talvez a grande maioria prefira recordar o caudilho gaúcho no dia 24 de agosto, data em que segundo suas próprias palavras “deixava a vida para entrar na história”, gesto cuja dramaticidade tocou intensamente a alma nacional, a ponto de inverter tendência política que aparentava perdas para o suicida.

Esqueceram Getúlio Dorneles Vargas III

Talvez muitos tenham esquecido nas homenagens a Tancredo Neves que o mineiro foi ministro da Justiça do governo Vargas e que o assistiu nos últimos momentos daquele dia de agosto, episódio do qual certamente retirou exemplos de dignidade que lhe serviram como azimute durante o resto de sua via. Enfim, a ampla personalidade de Vargas como homem ou como político, presta-se a inumeráveis especulações para que não fique esquecido seu nascimento, nos tem pos do fastígio do poder comemorado com fogos e clarinadas, hoje sequer lembrado pela natural imposição da natureza das coisas, que dão preferência ao culto de Tiradentes, marco histórico que baliza outros acontecimentos incorporados à memória nacional. Seja como for, o cronista vive de analisar fatos e deles tirar alguma conseqüência. É possível que muitos leitores ainda conservem vivas idiosincrasias herdadas do período Vargas. Mas ninguém negará a ele o lugar de honra que tem na história do Brasil

Esqueceram Getúlio Dorneles Vargas IV

Os episódios políticos que antecederam o retorno de Vargas em 1950 pela via eleitoral são carregados de simbolismo com relação ao destino do líder gaúcho. Em entrevista ao jornal “A Noite” e a uma pergunta mais ousada do repórter que o entrevistou, Vargas manifestou seu receio de ser vítima de enfrentamento pelo desencadear desordenado de forças a ele contrárias com essas palavras: “Ninguém me verá sair do governo desonrado”, sem contudo desmentir a afirmação que deu ao jornalista Samuel Wainer à pergunta se gostaria de voltar ao poder com essas palavras: “se o povo pedir a minha volta eu voltarei. Não com o líder político, mas como líder de massas”. Assim aconteceram as preliminares do retorno de Getúlio ao poder em 1950, pela força do voto popular, destroçando o poderoso esquema adverso armado à sombra do governo Dutra e que afogou na enchente das urnas getulistas o surrado esquema udenista de lançamento da candidatura do Brigadeiro.

domingo, 11 de abril de 2010

A profanação do túmulo de Tancredo I

Candidatos que obedecem cegamente as instruções de marqueteiros estão sujeitos a vexame, em tudo semelhante ao protagonizado pela candidata presidencial na cidade de São João Del Rey. Exalando o odor nauseabundo de descomunal farsa, ante o olhar constrangido do bom Patrus, a candidata depositou flores na sepultura de Tancredo Neves, tentativa burlesca de reconciliação do petismo com o ex-presidente após 25 anos de havê-lo repudiado com radical e não menor agressividade. Se em Ouro Preto depositar flores no Panteon da Inconfidência poderia ser encarado normalmente como peça publicitária de campanha, tentativa que também adquire ares de mistificação aceita com naturalidade pelos ouropretanos acostumados a essas encenações, a visita incorporada do PT ao jazigo do líder mineiro aconteceu com atraso de um quartel de século, após expulsar de seus quadros dos três parlamentares paulistas que votaram em Tancredo no colégio eleitoral, além de recusar publicamente a participação no projeto de união nacional comandado pelo mineiro morto antes de assumir a presidência.

A profanação do túmulo de Tancredo II

Os responsáveis pela publicidade da candidata cometeram grotesco escorregão histórico, como se fosse possível ser levada a sério uma ação que adquiriu insólita expressão de reles e tosca exploração eleitoral de um sentimento que é caro e nobre aos mineiros. Por certo, há de pagar preço alto pela imprudência e impudência políticas no momento próprio, pois mesmo recebendo o perdão, com o é da índole mineira, para o gesto anterior de repulsa aos acenos pacificadores e patrióticos de Tancredo, os nascidos nestas terras das Gerais não se esquecem facilmente do quanto repercutiu negativamente os gestos de hostilidades de Lula e seus companheiros a todas as propostas conciliatórias, feitos em nome de uma união nacional que conseguiu criar condições para consolidação do processo democrático, de que mais tarde se beneficiariam

A profanação do túmulo de Tancredo III

. Os olhos já enfastiados de velho combatente político jamais contemplaram cena tão canhestra e até mesmo provocadora para os brios desta gente valorosa que mora entre estas montanhas, que, como diz o presidente Itamar Franco, “ninguém nivela”. A infeliz proposta marqueteira, inventada para ajudar a melhorar a situação da candidata em Minas Gerais, serviu tão somente para ressuscitar velhas amarguras que jaziam nas sombras do esquecimento e desnudou por completo as fragilidades da candidata em seu propósito de angariar apoios dos mineiros. É bom não esquecer que o então candidato Lula recusou e combateu todas as propostas de união nacional iniciadas pelo presidente Itamar Franco, tendo comandado a expulsão da deputada Luiz Erundina por haver aceitado participar do ministério de união nacional do grande mineiro.

A profanação do túmulo de Tancredo IV

Enfim, o petismo ao qual a candidata se integrou recentemente para efeitos eleitorais, não resgatou seu débito histórico com Minas e muito menos com Tancredo Neves, cuja sepultura sofreu abalos pelo peso da insinceridade e da farsa depositadas sobre ela. A profanação lembrou Joaquim Silvério dos Reis, agravada por um sem número de estroinices ditas depois pela candidata bonifrate.Há na crônica política de Minas um anátema de autoria do famoso José Maria Alkmim: “política não foi feita para calça curta”, querendo significar que o exercício desta nobre atividade exige, a um só tempo, senso de proporções, discrição, equilíbrio nas palavras, enfim, qualidades que os neófitos e improvisados não demonstram em suas arrancadas iniciais. Só o tempo e o exercício continuado dessas virtudes é que capacitará o agente político de um mínimo de condições para seu exercício. A visita da candidata ao túmulo de Tancredo, portando largo sorriso treinado pelos marqueteiros para substituir a carranca fechada da portadora, causou danos irreparáveis que serão cobrados no tempo certo.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Os fundamentos morais da República I

Discursando à beira do túmulo do presidente Floriano Peixoto, o governador do Pará, Lauro Sodré, proferiu palavras candentes que parecem ainda repercutir intensamente: “A República não pode ser isso que aí está, uma casa de negócios dessas em que há tarifas para as consciências”. A repetição de ações marcadas pelo espírito mais antirepublicano assumidas pelo governo federal, comboiando em forte contradição aos postulados legais uma candidatura marcada pela mais ilógica das artes da política, restaura em sua dramaticidade a advertência do político paraense. Em verdade, só a virtude é fundamento da República, aquela virtu de que falava Santo Agostinho como base para construção dos fundamentos de sua filosofia. O que assistimos no Brasil é à mais violenta contrafação a todos os fundamentos do verdadeiro espírito republicano.

Os fundamentos morais da República II

Quando o presidente se desveste dos trajes talares que exornam a suprema autoridade do país, para transformar-se em cabo eleitoral de uma candidata ou candidatos de seu partido, está praticando a mais desrespeitosa afronta aos princípios que informam uma República decente e verdadeiramente democrática. É que o mau exemplo do principal dirigente acaba por se transformar em biombo que oculta toda espécie de desregramento contaminador da moralidade e dos bons princípios éticos. Fácil aos áulicos e correligionários é retirar de sua conduta heterodoxa modelos de comportamento bem distantes dos bons costumes que informam a verdadeira atividade pública e política. Atrás deles seguem pressurosos prefeitos, cabos eleitorais, sindicalistas aparelhados, em fim toda uma coorte de aproveitadores estimulados pela impunidade presidencial à prática dos atos mais condenáveis numa verdadeira democracia.

Os fundamentos morais da República III

. Triste e lamentável foi o ar de deboche com que o presidente recebeu a notícia de que o TSE lhe havia aplicado a multa irrisória de R$5.000 por comportamento ilegal de campanha a destempo do permitido em lei, merecendo multa recorrente superior, mesmo sabendo que o indigitado transgressor é devedor ao citado tribunal de multa de R$900 mil, aplicada em 2002 por campanha igualmente ilegal. Esses episódios tisnam irremediavelmente esse período da história republicana. Nunca tantos se desmandaram. Nunca tantos tentaram estuprar as leis e os bons costumes. Jamais houve tantas agressões ao bom senso. Não há exemplos históricos em que se fez mais tábula rasa dos princípios morais. Não se tem notícia nos anais políticos de homens de governo usando de palavreado chulo e desbocado. Nunca as páginas dos processos criminais se emprenharam em abundância de nomes de tantos atores políticos. A virtude nas democracias republicanas permite ao povo a chance de modificar as coisas. Em, sua simplicidade, aliada à modéstia e muitas vezes à pobreza invencível em que se encontra, o povo costuma realizar verdadeiros milagres.

Os fundamentos morais da República IV

Estão lançadas as bases da campanha política que teve início ilegal pela imprudência e destempero do presidente da República, açodado em lançar uma candidata goela abaixo de seu partido, que engoliu a violência sem mugir nem tugir. Com o início do contraditório eleitoral na televisão, a verdade deverá aparecer luminosa para permitir ao povo uma avaliação correta de tudo o que se passa no país, bombardeado diariamente por custosa publicidade que pretende fazer do branco preto e do quadrado redondo. Quem sabe, Deus acudirá o Brasil nas eleições de outubro, ensejando uma transformação que recomponha as forças morais da nação, restaure os princípios da moralidade, da transparência e da responsabilidade, reponha a verdade em toda sua pureza e permita ao povo um clima de segurança institucional digna das melhores tradições brasileiras. Assim seja, amén.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Uma poesia de Olavo Bilac

OUVIR ESTRELAS

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo perdeste o senso!"
E eu vos direi, no entanto,
que, para ouvi-las, muitas vezes desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!Que conversas com elas?
Que sentido tem o que dizem, quando estão contigo?
"E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."

A grave e fatal doença da corrupção I

Pela repercussão causada e pela verdade que contém, o manifesto do deputado José Eduardo Cardoso, secretário geral do PT, de renúncia à disputa para a Câmara Federal não pode passar em branco. Merece ser comentado porque traz novamente à discussão o problema da corrupção eleitoral, do uso imoderado do dinheiro em eleições e o estado de pauperismo ideológico e mental em que se chafurdam as instituições políticas. Diz ele: “Fazia isso por já não me sentir confortável em disputas onde os recursos financeiros cada vez mais decidem o sucesso de uma campanha, onde apoios eleitorais não são obtidos pelo convencimento político das idéias, pelo programa ou pela própria atuação do candidato proporcional, mas quase sempre pelo quanto de “estrutura” financeira ele pode distribuir. Já os corruptos cuidadosos que podem pagar bons e caros técnicos que os assessoram, costumam não cometer erros desta natureza, ao engendrarem suas grandes “falcatruas”.

A grave e fatal doença da corrupção II

Bem assessorados, quase sempre saem “limpos” das disputas eleitorais e aptos a continuar a assaltar os cofres públicos com a mesma desenvoltura de sempre. Quando, porém, eventualmente, são pegos pelas malhas da lei, já possuem os cofres nutridos para pagar bons advogados e fortuna suficiente para fugir da execração social em lugares acolhedores do mundo. O sistema político brasileiro traz no seu bojo o vírus da procriação da corrupção e das práticas não republicanas, mas também inocula, ao mesmo tempo, outro vírus que atinge o ânimo dos que gostam do Parlamento, mas não gostam das condições, das regras, das calúnias e das incompreensões que forjam o caminho do acesso e o exercício de um mandato proporcional. Embora tenha lutado muito contra o primeiro, fui, lamentavelmente, atingido pelo segundo”.

A grave e fatal doença da corrupção III

A transcrição do desabafo do parlamentar paulista tornou-se impositiva, tal a força de sua denúncia para o estado geral da nação e da política, evidenciado sintomas de enfermidade grave na vida institucional brasileira que, se não debelada, será danosa para as futuras gerações. Aqui em Minas já começaram a surgir no mundo político-parlamentar denúncias da avassaladora presença do poder econômico corrupto e corruptor, além dos inevitáveis abusos cometidos pela incultura política de detentores de cargos nos escalões do governo. O vício está profundamente arraigado na mentalidade de alguns homens de dinheiro, que se julgam acima do bem e do mal para corromper, estribados na impunidade geral que vige no país. Será que tem algum valor pregar por reforma política que elimine o vicioso e fraudulento sistema proporcional de captação de voto, cuja perpetuidade assegura igual permanência aos corruptores de todos os matizes?

A grave e fatal doença da corrupção IV

Por mais que se enrijeça o discurso moralizador contra a corrupção disseminada país afora, tanto nos grotões como nos palácios, tem-se a impressão que a praga aumenta sua resistência. A cada nova eleição o quadro se renova, voltando sempre com redobrado vigor. Conheci vários homens ilustres que honraram e dignificaram a representação parlamentar, abandonando-a por impossibilidade de enfrentar o dragão do dinheiro sujo nas eleições, vários deles tombados à beira do caminho pelo avassalador uso da compra de votos. O vício é recorrente e parece estar definitivamente incorporado aos costumes, pelo menos até o dia em que se resolva colocar termo ao sistema proporcional de eleição, responsável direto pela presença corruptora da pecúnia nos pleitos brasileiros. O civismo recomenda prosseguir no combate, apesar dos percalços. Dizia o poeta “prudente foi São Francisco que falou aos peixes. Corajoso foi Cristo que pregou aos homens; mas o mais sábio de todos foi João Batista, que pregou no deserto”. Está escrito nos Provérbios (29, 16): “Quando se multiplicam os ímpios, multiplica-se o crime, mas os justos contemplarão sua queda”. Assim seja.

domingo, 14 de março de 2010

O destempero de Lula e o canhã Paraguaio I

Os países da loucura e da sabedoria são limítrofes e de fronteiras tão incertas, que nunca pode alguém saber com segurança em qual dos dois países se encontra. Lembrei-me destas palavras lendo e ouvindo os destemperos verbais do presidente da República, tentando tornar palatáveis aos olhos do mundo conceitos proferidos em Cuba, de conseqüências desastrosas quando depositou sua reverência e servilismo escancarados à cruel e funesta ditadura, enquanto o mundo civilizado contemplava perplexo o assassinato do pedreiro que ousou desafiar o círculo de ferro que domina a sofrida ilha do Caribe. O presidente da República está colocando os observadores nacionais e internacionais naquela situação de não poder identificar se o fim do mandato ou a certeza da imortalidade, criada pela publicidade governamental, em ritmo de estrela cadente, colocam o chefe do governo no país da loucura, afastando-o do país da sabedoria em que muitas vezes habitou em instantes de seu governo, sob cujo manto protetor petistas e sindicalistas, misturados a cupinchas e aloprados, fartaram-se à vontade nas tetas do governo.

O destempero de Lula e o canhão paraguaio II

Ao discursar comparando presos políticos a bandidos, o destempero verbal colocou Lula, antigo preso político, condicionado à própria definição, o que evidentemente não é verdadeiro. O espetáculo de bufonaria que o presidente tem oferecido diariamente, falando pelos cotovelos após almoços opíparos com a carga pesada de sua candidata a agredir a Justiça Eleitoral, demonstra a perspectiva de que o pior ainda está por vir à medida que a luz do poder bruxuleia e caminha para a exaustão. Pelo menos em respeito à sua biografia, que tem aspectos singulares e nobres, Lula deveria se resguardar para não entrar pela porta dos fundos da história, justiceira neutra que louva e condena os homens de governo não pelas obras que o tempo supera, mas pelos exemplos de honra ou desonra com que conduziram seus povos.

O destempero de Lula e o canhão paraguaio III

. Para não perder mais tempo com esse falastrão incorrigível, achei melhor oferecer ao leitor a oportunidade de debater sobre o pedido do governo do Paraguai de devolução do “canhão cristão”, peça de artilharia assim chamada por ter sido confeccionada com os sinos das igrejas da capital vizinha e apreendida durante escaramuças da histórica guerra. O apelo dramático formulado pelo vice-presidente paraguaio, em tom emocional, de que “feridas não se cicatrizarão nunca mais” se o “boca de fogo” lhes não for entregue, deve ser imediatamente atendido, sob pena de a indecisão quanto ao desfecho ensejar interminável e insosso debate sobre a devolução ou não ocupar o lugar e o tempo dos problemas que circundarão o debate eleitoral deste ano. Será gesto de cordialidade e benemerência histórica para com o Paraguai e sua entrega sob o pálio da propaganda dará a Lula oportunidade para rasgar seus improvisos alagados, com que inundará o coração e as mentes dos agradecidos paraguaios em fervor e oração.

A ditadura cubana e a educação brasileira I

Meu impulso inicial era o de comentar o papel ridículo e carregado de mistificação vivido pelo presidente brasileiro em Cuba, na visita de despedidas feita ao ditador cubano e seu irmão no mesmo dia em que foi assassinado pelo governo cubano o operário Zapata Tamoyo, depois de 85 dias em greve de fome como protesto pela prisão por delito de consciência pela falta de liberdade na ilha do Caribe, representativa do sonho de frustrado dos comuno-esquerdistas brasileiros. Como é perda de tempo enviar mensagens a ouvidos de mercador de governo embalado pelas cantigas dos turibulários e convencido de sua própria divindade, achei de melhor alvitre abordar os dados sobre a educação brasileira, fornecidos pelo Ministério da Educação e indicativos de que estamos próximos da falência institucional do mais importante setor da vida nacional. Enquanto soltam os fogos de artifício da publicidade para festejar êxitos anunciados, o resultado é entristecedor quando se comprova que apenas 33% das 294 metas fixadas foram cumpridas. Os números são constrangedores para o país: além da alta repetência verificada desde o ensino fundamental até a universidade, continua baixa a taxa de universitários e o acesso à educação infantil distante do proposto. Se a análise se fixar no ensino infantil e fundamental, a cargo dos municípios, o panorama ainda é mais desolador.

A ditadura cubana e a educação brasileira II

Além da conhecida deficiência material do espaço físico das escolas, a péssima remuneração do magistério é fator de fuga permanente dos melhores quadros. No que diz respeito à educação infantil, o Brasil se encontra muito distante de preencher as metas previstas para 2010, quando havia esperança de que 50 por cento das crianças de 0 a 3 anos de idade estivessem matriculadas em creches ou estabelecimentos próprios para essa faixa etária. Os dados estatísticos revelam que apenas 18 por cento das crianças naquela idade conseguiram vagas nas escolas especializadas. Se houve aumento de matrícula no ensino fundamental, apesar da notória deficiência da rede escolar, acrescida dos problemas salariais dos professores e funcionários, no ensino médio estão fora da escola, na idade de 15 a 17 anos, cerca de 16 por cento e na universidade, cujas previsões indicavam o aproveitamento de 30% naquela faixa de idade, apenas 13,7% teve acesso aos cursos superiores.

A ditadura cubana e a educação brasileira III

. O que grita mais alto, como atestado da falência institucional dos planos e objetivos educacionais, é o número de analfabetos no Brasil, que atinge a soma de 14 milhões de jovens com 15 anos. Não estão incluídos aí os analfabetos funcionais, vale dizer, aqueles que escrevem apenas o nome, mas são incapazes de ler ou ter o entendimento daquilo que lêem. O quadro é preocupante, pois é esta gente inculta e despreparada que será convocada para eleger o futuro presidente da República, governadores de Estado, senadores e deputados federais e estaduais, em ambiente marcado pelo desrespeito às leis e as normas éticas.

O centenário de Tancredo Neves I

Alguns povos e nações têm mais sorte do que outros, sobretudo quando sua história está impregnada de varões ilustres e instituições determinantes de seu caráter e heroísmo. Maior ventura têm ainda quando, em períodos ensombrados e perda gradativa de valores, podem se voltar para o passado e retirar dele os modelos e paradigmas para prosseguir em sua caminhada. É o que se passa no Brasil, nesta hora de intensa degradação institucional, de volume crescente de corrupção e falência de seu combate, quando toda a população se volta para as comemorações do centenário de nascimento de Tancredo de Almeida Neves, nascido na velha e libertária São João d’El Rey no dia 4 de março de 1910, bebendo nas fontes de sua formação os exemplos de amor à liberdade, ao direito e à justiça. A exaltação da figura histórica de Tancredo é alimento espiritual e cívico para o povo desesperançado, buscando reencontrar nele os rumos perdidos no desvario demagógico e o populismo desenfreado.

O centenário de Tancredo Neves II

. Com passagens marcantes na história do Brasil na segunda metade do século XX, Tancredo revigora o mesmo espírito que presidiu o Ministério da Conciliação presidido por Honório Hermeto Leão Carneiro, marquês do Paraná, em 1853, assegurando tempos de paz e de concórdia que deram grande prosperidade ao Brasil, além da restauração da paz e da ordem. Tendo sempre como inspiração as lições do mineiro de Jacui, assinaladas pelo mais intenso patriotismo e devoção ao Brasil, Tancredo construiu pontes institucionais seguras no episódio do dramático suicídio de Vargas, atuando nos momentos decisivos com a palavra pacificadora, sem abrir mão dos ordenamentos éticos ditados por seu comportamento público.